Por: Marcelo C. P. Diniz
Eu me lembro, quando trabalhava na Souza Cruz, dos comerciais exuberantes que produzíamos para os cigarros Hilton, os mais luxuosos do portfólio. Em poucas palavras, uma mulher jovem e bonita, vestida para as melhores festas, descia de um carro de primeira linha e era recebida por um homem tipo Alain Delon que a levava a um evento padrão Copacabana Palace. A gente chamava esses comerciais de “sonho de puta”.
Pois na administração pública nem sempre é diferente. É só lembrar daqueles comerciais que chegam a dois minutos, exaltando a administração deste ou daquele governo, todos os hospitais são padrão Sírio Libanês, as escolas vieram da Korea do Sul, o trânsito flui maravilhosamente por um sistema viário em que o asfalto é o mais liso que poderia ser, os jardins são como os de Burle Marx, e haja saco para assistir tanta mentira.
Mas nem tudo está perdido. Alguns administradores usam a verba de propaganda para ampliar seus serviços à população.
O princípio fundamental que os norteia foi ensinado por Amartya Sem e se baseia na liberdade, cooperação e harmonia como indutores de desenvolvimento. Fácil constatação. A antítese desses conceitos é dramaticamente sentida na Venezuela de Nicolás Maduro.
O ente público deve liderar o processo virtuoso. Ele será a organização relevante, que ultrapassa o ciclo assistencialista ou paternalista e gera entre ela e a sociedade um sentimento de pertencimento. “Somos um”.
O engajamento é um indicador crucial quando as comunicações são capazes de entregar mensagens que tocam tanto a mente quanto o coração – e a tomada de decisão, é claro – do cidadão. É preciso que o eleitor dedique algum tempo de atenção às mensagens do governo para que consiga absorver as ideias transmitidas. Além da criatividade, estas devem prestar serviços de utilidade e relevância para os cidadãos.
Lembrar sempre que a liberdade de expressão é um dos fundamentos da liberdade de ser. Agora que, cada vez mais, a transparência da administração pública e sua interatividade com os cidadãos é facilitada pelas mídias digitais, os governos precisam estar dispostos a ouvir a nossa voz, todas as vozes. E ter instrumentos para a troca de ideias com os cidadãos, sabendo que eles serão considerados seriamente na formulação das políticas públicas.
Em suma, a conquista da opinião pública se dá quando a propaganda institucional foca a divulgação de ações da administração pública de caráter preferencialmente educativo e de orientação social. O gestor público lidera a ação. A cooperação conjunta com a população promove o bem-estar e reduz os custos administrativos.
Tudo podia ser bem diferente do que vemos hoje em muitos setores – comunicações inverídicas tentando vender cigarros Hilton para a população.