Por: Marcelo C. P. Diniz
Eu vim morar no Rio em 1977, depois de me criar em Belo Horizonte até os 29 anos de idade, uma vida inteira pela frente com um pouco mais de maturidade.
A não ser por rápidas viagens, eu não conhecia nada além de Minas Gerais. E pensava: os mineiros são muito estudiosos, as discussões são inteligentes, mas nada que resvale na transparência absoluta, é uma cultura de gente matreira.
Os mineiros são bons ao receber em casa, café com bolo não pode faltar. Os cariocas, por outro lado, eu não sabia se ia gostar. Diziam que eles eram folgados, não gostavam de trabalhar e faziam piadas com grande facilidade, um expediente que podia destruir reputações. Quando combinavam um encontro era no bar ou no restaurante, nada religioso, podiam chegar atrasados ou simplesmente faltar.
O carioca segue o seu próprio bom humor, pensei. Foge de quem é chato como o diabo da cruz.
Hoje em dia, se você entrar num taxi em Belo Horizonte e disser que morou no Rio, o primeiro assunto será o da segurança. Uma preocupação de todos, é verdade, mas por que será que o Datena privilegia os crimes de São Paulo e a TV Globo mostra mais o Rio? Porque as sedes das emissoras estão lá, é lógico. Fica mais fácil, mais rápido e mais barato filmar o que acontece nas áreas próximas. Além de tudo, o crime está se espalhando por todo lugar e o povo gosta de saber. Audiência garantida.
Mas focando o Rio além das câmeras destinadas à criminalidade, vamos encontrar uma cidade maravilhosa, como sempre foi. O carioca é um povo alegre, descontraído, gosta de gente que enxerga a vida como ele. E sem essa de dizer que não trabalha. Já prestei serviços durante muito tempo em São Paulo, não vi diferença entre a dedicação dos executivos de um e de outro lugar. A globalização tratou de equalizar as responsabilidades.
Vamos ver o que essa maravilha de cidade criou para todos nós: o gosto de curtir o corpo em praias tão lindas como Copacabana, Ipanema ou Leblon; o prazer de passear pela Lagoa e inúmeros pontos turísticos oferecidos pela natureza; o Carnaval, considerado por muitos como o maior espetáculo da Terra. Também não cabe neste espaço tudo que o Rio já produziu e produz em termos de cultura. Desde o samba, a bossa nova e a vida noturna da Lapa, passando pelos centros de produção audiovisual, como o Projac da Globo e o Casablanca Estúdios da Record, pelas obras de Oscar Niemeyer, pela Academia Brasileira de Letras e o Museu do Amanhã, entre muitas outras casas de cultura.
A cidade respira criatividade, o que se traduz em destacado centro de economia criativa, que pode ter arquitetura, artes cênicas, audiovisual, biotecnologia, design, editorial, expressões culturais, moda, música, patrimônio e artes, pesquisa & desenvolvimento, publicidade & marketing, tecnologias da informação e comunicação. Só em 2015, a economia criativa somou R$ 155,6 bilhões à economia brasileira, de acordo com estudo da Firjan.
Mas o meu amor pelo Rio não vai parar por aí. Turismo, vida social gratificante, esportes ao ar livre, cultura. Muita coisa já realizada, muito por fazer.
Cabe destacar também a economia das favelas, tão mal faladas, tão resilientes. 10% da população carioca vivem em favelas. Só a Rocinha tem 25.000 domicílios. Qualquer política pública no Rio de Janeiro deve considerar o potencial de trabalho e de consumo dessa gente. Segundo o Data Favela, em 2023 cerca de 17,9 milhões de pessoas viviam em favelas no Brasil, sendo que movimentaram R$167,8 bilhões por ano. Além disso, o Data Favela aponta que empreender e ter o próprio negócio é o maior sonho profissional dessa parcela da população. As oportunidades estão aí.
Mas e os negócios no Rio de Janeiro? Houve épocas de declínio, não restam dúvidas, mas a economia daqui é a segunda maior do Brasil, representa 11,2% do PIB nacional. Serviços, comércio e turismo são muito fortes e, acima de tudo, o petróleo. Entre outras grandes empresas, temos as sedes da Tim, Embratel, Vale, Rede D’Or, Multiplan, Shell, Esso, Petrobras e Ipiranga, o que sinaliza inúmeras oportunidades para a expansão dos mercados e para prestadores de serviços.
O Rio é beleza. Alguém já disse que nada emociona mais do que a beleza. O Rio é trabalho, e trabalho sério. Também faz parte da elite intelectual brasileira, gente inteligente que se dedica a saber mais e aplicar conhecimento em suas atividades.
Com muito bom-humor, disso os cariocas não abrem mão.