Gestão pública sem experiência

Por: Marcelo C. P. Diniz

No início da minha carreira, para supervisionar as vendas de uma multinacional, os novos empregados deviam fazer um treinamento de, no mínimo, três meses. Mandavam o sujeito aprender num território completamente diferente do que ia assumir para conhecer mais particularidades da companhia. Vendedores novatos ficavam pelo menos um mês em treinamento no próprio cargo, com a supervisão de gente mais experiente.

Vejam vocês o que se exigia de conhecimentos para vender um produto padronizado, praticamente sem variações de preço e prazo de pagamento, numa área geográfica bem menor que o Brasil.

Na política é bem diferente. Quando um candidato qualquer sem experiência vence a eleição para um cargo de gestão pública relevante, porque é feio ou bonito, instala-se o caos.

Quase nada ali é padronizado e a burocracia estatal tem nuances imponderáveis. O eleito vai gastar pelo menos um ano para entender o sistema em que se meteu, seu partido e os outros, mais ainda para fazer os acordos necessários, caso contrário não governa.

O problema maior é quando ele não tem educação nem cultura para pensar, fazer e dizer as coisas certas. As iniciativas que o eleitorado demanda.

Vejamos, por exemplo, o meio ambiente. Principalmente agora, que conhecemos os passos da economia verde, é fundamental ao desenvolvimento de qualquer país e garantia de vida. Mas é um negócio de médio e longo prazo e o nosso governante já perdeu pelo menos um ano para começar a fazer alguma coisa. Pensando a curto prazo, o inculto vai chegar à conclusão que vale mais destruir a ecologia para minerar petróleo ou o que seja. Receber dinheiro rápido em lugar de ficar preservando biodiversidade.

Por muitos e muitos anos os políticos deixaram o saneamento básico para trás porque as obras ficavam debaixo da terra, ninguém via, não gerava votos. Agora, com todas as enchentes que os estados estão sofrendo, técnicos concluíram que os esgotos contribuem, e muito, além de trazer doenças, mal cheiro, tudo de ruim. O saneamento também é sustentabilidade. E o IBGE contou:  

  • em 2022, 49 milhões de pessoas moravam em residências sem descarte adequado de esgoto (24% da população);
  • 18 milhões sem coleta de lixo (9%);
  • 6 milhões sem abastecimento de água adequado (3%);
  • 1,2 milhão sem banheiro ou sequer um sanitário (0,6%).

Vamos à educação, outro desafio que o nosso gestor não vai resolver em quatro anos de mandato, muito menos nos três que lhe sobraram já que, segundo a Unicef, 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estão fora da escola no Brasil. Nas classes D e E o número chega a 17%, mais um fator de desigualdade social. E há que fazer estudos mais detalhados sobre a qualidade do ensino em cada região brasileira, da pré-escola ao técnico e ao superior. É um trabalho a longo prazo, que deve ter a consultoria de educadores experientes, talvez não dê votos na próxima eleição.

Mas é bom saber que os sul-coreanos, por exemplo, conseguiram um desenvolvimento notável em 30 anos. Grande parte desse salto é explicado pelo imenso desenvolvimento educacional que implementaram.

Então, meu caro gestor público de primeira viagem, melhor estudar bastante e conversar muito com quem tem experiência. Caso contrário, nada feito.

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