(Férias de 30 dias, o texto é grande. Mas escrevi para deixar registrado)
Eu fico pensando na quantidade de estrangeiros de todos os lugares que estão, neste momento, poupando ou simplesmente planejando vir ao Rio para umas férias. Não conheço nenhuma cidade do mundo que me encante mais, talvez eles também não.
Eu morei por aqui durante 40 anos. Uma cidade onde muitos vão trabalhar pela praia e voltam pela Lagoa. O engarrafamento é altamente compensador. E sem essa de dizer que é perigosa, tem bala perdida e tudo mais de ruim que a TV insiste em mostrar porque dá audiência. Eu passei 40 anos da minha vida no Rio de Janeiro, uma parte fazendo ponte aérea semanal para São Paulo, lugar mais fácil de ganhar dinheiro. Mas o final de semana, não. Este sempre foi para quem gosta de viver com os olhos cheios de beleza e o espírito regrado pelo jeito de viver dos cariocas.
Pois bem, sofri um trombadão na São João com Ipiranga por ser verde naquela cidade. Mas não tão idiota assim. Tinha dividido o dinheiro em vários bolsos, o trombadão encontrou uma merreca no bolso escolhido. E, jogando para a plateia, me devolveu o dinheiro. Toma!
Anos depois entrei no elevador do prédio onde trabalhava, um cara meio franzino me encostou o cano de um 38 no queixo enquanto seu comparsa limpava os demais “viajantes”. Joguei uma conversa fiada, indiquei a porta de saída do prédio, na confusão assaltaram todo mundo menos eu. O saldo das perdas da família inclui apenas um cordão arrancado do pescoço da minha mulher por um ciclista e um relógio de segunda linha que a minha filha teve que entregar a um menino meliante, no caminho de casa.
Vamos e venhamos, é muito pouca coisa para uma cidade grande. Ninguém precisou chegar perto dos lugares onde os traficantes e milicianos promovem suas farras pela ausência total do poder público, há décadas. E assim como em todo lugar que tem gente pobre aglomerada nas chamadas comunidades, ou morando nas ruas, o Rio também tem. Quer ter segurança, é só não ir lá. O mal não é só do Rio, é de muitas outras cidades pelo mundo afora. E é perfeitamente possível circular pelos mais agradáveis bairros sem ser assaltado.
Depois de 6 anos morando em Belo Horizonte, voltei ao ninho para umas férias. Na verdade, meu ninho original foi em Belo Horizonte mesmo, onde nasci, cultivei amizades de raiz e fui acolhido em família. Mas é como dizia um paraense, grande amigo meu, no Rio de Janeiro: Marcelo, Belo Horizonte é muito longe da praia.
É mesmo, quando cheguei à Cidade Maravilhosa, minha primeira providência foi molhar os pés na água, em frente ao Copacabana Palace. Quer melhor?
Não tive muita sorte com os dias de céu claro. Vontade de mandar esse El Ninho pra PQP. Mas o resto da história é gratificante. Fiquei uns 10 dias na casa do meu filho em Vila Isabel. Para chegar à Estação Uruguai do Metrô são mais ou menos 10 minutos. Não precisa Uber, não precisa celular. O porteiro abre o portão, você estende a mão e, mais rápido do que imediatamente, um taxi para e diz bom dia. E você segue por 10 minutos se deliciando com o sotaque carioquíssimo do motorista da Zona Norte que, hoje à noite, vai passar um churrasco com os amigos para ouvir a vitória do Fluminense. Imagine se fosse o Flamengo.
Tomado o Metrô, para onde vamos? Um almoço no Vilarino com o Lula Vieira, ali mesmo onde Tom Jobim conheceu Vinicius de Moraes, foi convidado a escrever Orfeu e perguntou: tem um dinheirinho aí, pro aluguel? A comida nem precisava ser boa.
No dia seguinte, qual foi o cardápio? Pela cronologia não sei mais. Só sei que eu e o Luis Felipe Tavares recebemos a representação para tentarmos que um dos grupos de comunicação brasileiro coloque no ar o Kartoon, que pretende concorrer com o Cartoon Network, existe mundialmente mas ainda não entrou na América do Sul. Pode ser um bom negócio, tomou algum tempo. Na torcida!
E vamos ao lazer, que ainda tem muita gente boa para abraçar de saudades. A turma da MPM Lovers, num almoço super agradável e delicioso no Camarada Camarão; depois o Luca, amigo velho do Quintas e Quintais e do Jobi, quando reunimos mais uma vez algumas senhoras (senhoras ou garotas? Para mim, garotas) do MPM Lovers em torno do chopp e alguns quitutes.
Gente boa de montão: Anaíse, Paola, Miroca, Maurício, Carmem, Marion, Álvaro Edyr, Aylton, Ana Paula, Andrea Maggessi, Glaucia, e o Waltely ainda apareceu no Whatsapp. Lavaram a roupa suja legal, rimos à beça, o almoço durou umas cinco horas, beleza pura.
Mas quem trabalhou a vida inteira não perde o vício, né não? No meio do caminho lancei o “Turrão e suas peripécias”, tomou um pouco de tempo.
Tive um encontro muito bom com o Thomaz Naves, diretor da Record TV, na bela casa onde ele mora em São Conrado. Talvez saia um novo livro dessa conversa.
E como não podia deixar de ser, fui ao Quintas ver o Caio e a Rosalia, amigos de muitos anos, apoiadores, gente que sempre fez muita falta e que eu só via virtualmente. Almoçamos juntos, ótimo.
Encontro super amigável foi também com o Luiz Antonio Aguiar, o redator das minhas histórias do Halley. Este projeto já passou dos 40 anos, mas a gente não desiste. Falei com ele: preciso do script de um videogame para apresentar à Lei Rouanet. Três dias depois estava na minha caixa de entrada, com todo o talento que o Luiz Antonio sempre teve. O Outro Luis, meu sócio, perguntou: mas se ele já tem 200 livros publicados, se já ganhou 2 Jabutis, quanto cobrou? __ A conta da lanchonete deu R$58,00, Luis.
Outros publicitários dos quatro costados também não faltaram. Foi aniversário do João Bosco numa casa de shows lá na Lapa. Tinha gente da Contemporânea, da Binder, da Artplan, tinha free lancers, pessoal de produtoras, uma festa. Mais um lugar tipicamente carioca temperado com o talento dos publicitários de ontem e de hoje.
A vida continua no Rio de Janeiro. Betty Wainstock e o marido foram tomar um café comigo no Baixo Leblon. Eles estavam tristes, também não era para menos, Israel em guerra com o Hamas, parentes estavam em perigo. De vez em quando uma pausa, mas a Betty, amiga querida, estava preocupada com os rumos das pesquisas que ela costumava fazer, simplificaram tudo, os preços tomaram o lugar da qualidade. Também fiquei preocupado, sugeri alguns argumentos que eles talvez venham a utilizar.
Desse último encontro, pulei para a Livraria Argumento, ali perto, para tomar um café e um chá de livros. Estavam lá a Kika, produtora de Tainá, e a Cristiane, aquela que está cuidando do meu processo junto à Lei Rouanet. Mais um encontro agradável. Como é bom conversar com gente que tem a cultura como companheira!
Pensa que acabou? Lula Vieira de novo, agora no Adegão Português, um Zé do Pipo mais do que caprichado, caro pra chuchu, mas bom!
Minha coluna operada não aguentava mais. A rigor, a rigor, não existe uma cadeira boa para a minha coluna. Imagine escrever ao computador sentado, como estou fazendo agora, depois assistir todas as notícias e análises da invasão do Hamas e os problemas humanitários, tudo sentado. Sai de casa, senta no taxi, depois no Metrô porque velho já está sendo sentado compulsoriamente em todas as viagens, depois horas e mais horas na cadeira do restaurante. Deu ruim.
Mudei para a casa da minha filha que mora na Península, onde existe uma piscina maravilhosa. Ida pra rua, só depois da piscina. E eu fui me encontrar com alguns, não todos que eu gostaria, da próxima vez eles não me escapam.
Só o Jackson Vasconcelos ficou fácil. Ele também fica na Barra, conversamos um pouco sobre política, talvez ele me contrate para fazer planejamento e textos na próxima eleição.
E o Armando Strozenberg, que eu considero mentor, além de amigo, fechou minhas férias com chave de ouro. Um café à seis da tarde no Shopping Design Leblon, muito bem servido de sabor e inteligência. Agora é abraçar a filha, o genro, dar um aperto nas netas e pegar o avião de volta. Qualquer dia desses eu repito a dose. O Rio de Janeiro é a minha casa.